Guilherme Leporace/Netflix
TODO DIA A MESMA NOITE. (L to R) BIANCA BYINGTON as ANA in TODO DIA A MESMA NOITE. Cr. Guilherme Leporace/Netflix © 2023
Um grupo de familiares de vítimas da tragédia da boate Kiss planeja processar a Netflix após o lançamento de Todo Dia a Mesma Noite, série que retrata o incêndio que matou 242 pessoas no dia 27 janeiro. Ao Bom Dia, Cidade!, da CDN 93.5 FM, a advogada Juliane Muller Korb, contratada por cerca de 40 famílias para representá-las no caso contra a plataforma, afirmou que as famílias estavam cientes de que o material estava sendo produzido, porém, acreditavam ser um documentário e não uma série. Ela ressalta que o objetivo não é criar conflito com os pais que concordam com a exibição da produção, e muito menos apontar o lado que está certo ou errado: “Todos têm a mesma dor, todos querem fazer justiça, todos querem uma resposta”, afirma a advogada.
Segundo Juliana, o drama, baseado no livro de mesmo nome da jornalista Daniela Arbex, trouxe à tona muita dor e sofrimento aos pais:
— Um exemplo muito triste e muito chocante foi esse relato que eu ouvi de mais de um dos pais, que no dia da tragédia eles não tinham estrutura psicológica de entrar ali no Farrezão para o reconhecimento dos corpos dos seus filhos. Durante esses dez anos, eles também não tiveram condições de acessar essas imagens, mesmo dentro do processo eles tentaram se blindar, não ver esse conteúdo na internet. As imagens dos corpos nunca foram mostradas em nenhum tipo de reportagem, e isso vem na exibição do trailer da série. É uma situação muito distinta porque se os pais não estavam preparados pra isso, não sabiam que isso ia ser feito dessa forma. Então o primeiro ponto central e o primeiro ponto fundamental disso acho que foi a falta de sensibilidade assim dessa produção, né? De não ter tido a gentileza e o cuidado, a responsabilidade afetiva de informar — explica.
O objetivo não é tirar a série do ar, mas sim, adequar o conteúdo exibido no trailer, por exemplo. Ela ainda explica que os familiares, não querem indenização, mas sim, responsabilidade com social e coletiva com a dor desses pais e a possibilidade de comercialização da tragédia.
— Existem questões muito importantes que não foram abordadas e eu acho que a gente tem que falar enquanto sociedade dessa responsabilidade social e afetiva com o sentimento, né? Ter a possibilidade, inclusive, de discutir, discordar, eventualmente mostrar um outro ponto. Tudo que esses pais não querem agora é viver eternamente com processo, só que se a gente não levantar essa discussão, as empresas vão começar a fazer tudo que elas quiserem dessa tragédia — reforça.
Apoio
Entre os familiares envolvidos no processo, alguns fazem parte da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), outros estão afastados e também existem aqueles que nunca fizeram parte do grupo. Nas redes sociais, a ATVSM afirmou estar ciente da produção e se sentiu representada pela série, que mistura realidade e ficção ao retratar o acontecimento.
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O coletivo ‘Kiss: que não se repita’, formado por amigos de vítimas, também publicou uma nota de esclarecimento nas redes sociais. Eles salientam que é impossível mostrar a trajetória das famílias envolvidas na tragédia sem reproduzir cenas sobre o sinistro, já que ele faz parte da história de todas elas.
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O Movimento SM do LUTO À LUTA — Meu Partido é um coração Partido, divulgou uma nota em que deixa público o apoio à série e afirma que é uma responsabilidade social divulgar ao máximo o que ocorreu.
A série Todo Dia a Mesma Noite foi lançada na última quinta-feira (25), dois dias antes da data em que a tragédia completou 10 anos e hoje ocupa primeiro lugar nacional entre os seriados da plataforma e entre as 22 mais assistidas no ranking global.
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